Dia 2
Aventuras > Algarve de Lés a Lés
Monchique - Alte Distância: 78.57 Kms
Depois dos preparativos do dia e da higiene pessoal, sai à rua pelas 8.30h para estar pronto na hora de abertura do café. A primeira constatação foi de que a temperatura encontrada no dia anterior, infelizmente, já era uma miragem. O calor já se fazia sentir por esta hora, anunciando desde já que o dia viria a ser muito duro.
Depois do pequeno-almoço e da montagem de todo a “carga” na bike, iniciei a etapa deste dia, nada melhor que iniciar com a subida, que devido a uma alteração de trânsito, é agora obrigatória de realizar até ao cruzamento da Foia. Aqui, confesso que parei para decidir se me deslocaria à Foia ou não. Mas, devido à hora tardia de saída e ao calor que aumentava assustadoramente, optei por continuar de imediato. A estrada para Alferce estava devidamente assinalada e a estrada tinha umas sombras que auxiliavam a suportar o forte calor que já abrasava o asfalto. Na EN257 entre Monchique e Alferce, pode-se assistir a um contraste entre as áreas verdejantes que escaparam aos fogos e outras destruídas que foram consumidas pelas chamas. Neste trajecto pude constatar que o track gps que tinha previamente desenhado, simplesmente tinha desaparecido, ou seja, tinha de recorrer ao mapa convencional para realizar o trajecto. No início não pensei vir a ter problemas, mas, com o desenrolar da etapa, o contrário viria a confirmar-se. Em Alferce tive de perguntar a direcção correcta. Esta seria a primeira de muitas paragens para este fim. Depois de obter a informação tive de vencer um forte ascendente sempre acompanhado pelo agora escaldante calor. No meio da subida existe uma exploração de suinicultura, até aqui nada de mal. O pior foi o intenso cheiro que dai saia e que o calor se encarregava de tornar quase irrespirável. Um mau momento nesta subida.
Quando atingi o topo da montanha, a vista que se obtinha fazia esquecer toda a dificuldade passada. A descida permite atingir velocidades anormais numa bike de montanha e com a agravante do peso adicional que transportava. Aqui funcionaram na perfeição os travões Magura hidráulicos. Depois da descida a estrada serpenteia a Ribeira de Odelouca, ou pelo menos onde eu esperava encontrar água. Assim não sucedeu, apenas se vê o leito totalmente seco… são as consequências visíveis da seca. Isto não impede que existam por aqui inúmeros laranjais.
Nesta parte do trajecto as sombras não existem e o calor começou a provocar estragos. Foi com alguma dificuldade que atingi um café já na EN124 junto ao local onde as águas da Ribeira de Odelouca sobem e descem ao sabor das marés. Repus água fresca no CamelBag e após algum descanso arranquei em direcção a Silves. Durante este trajecto não pude ficar indiferente à quantidade de mato que depois de cortado foi deixado a secar junto à movimentada estrada. Um verdadeiro convite a incêndios, completamente inacreditável!!! Em Silves após algumas ruas percorridas encontrei uma esplanada que me possibilitaria comer com a bike sob vigilância. Seguidamente procurei uma sombra nos bancos de jardim junto ao rio para ai passar algum tempo na expectativa do calor amainar um pouco. Tinha programado utilizar estradas camarárias no sentido de evitar a movimentada EN124, só que a ajuda do gps tinha terminado e daqui para a frente e até S. Bartolomeu de Messines as paragens foram uma constante pela necessidade de confirmar a direcção a seguir, agravada pela falta de placas indicadores do nome das localidades. Pior ainda, quando as poucas pessoas que encontrei não me sabiam indicar a direcção de algumas localidades que vêm no mapa... Se tivesse de qualificar esta parte do percurso em termos de paisagem, chamaria a Rota da Laranja, tal o número de laranjais aqui existentes. Depois de passar Messines e quando me cruzei com o IC1 tive de parar debaixo do viaduto pois já tinha dificuldade em beber água. O calor estava a fazer realmente muitos estragos. A custo, voltei a pedalar até encontrar um café e ai fazer uma paragem mais demorada.
Em Messines de Baixo, encontrei um café com uma esplanada onde estive realmente muito tempo. Pelo tempo que aqui estive, foi possível conviver com algumas pessoas, entre as quais se encontrava uma espécie de filosofo popular que tinha buscado a inspiração num número substancial de cervejas. Aproveitei para comentar que tinha pensado que o calor acalmava após as 15.00h mas, já tinha confirmado que isso não se aplicava. Fui informado que no Algarve o calor se mantinha estável até às 19.00h. Agora percebia o porquê das muitas dificuldades que estava a sentir, mesmo tendo em consideração que o desnível acumulado não era elevado. Apenas abandonei este refúgio pelas 19.30h em direcção a Alte. Foi a opção mais acertada já que a esta hora o sol estava mais fraco e, por estar mais baixo, possibilitava que as muitas laranjeiras pudessem contribuir como sombras. Ao chegar a Alte, já com a intensidade de luz reduzida, escolhi mais uma vez um restaurante onde fosse possível a vigilância da bike.
Depois de jantar rumei ao local onde, segundo as informações recolhidas no restaurante, era o mais indicado para acampar: a Fonte Pequena. Este local, deveras característico, foi reconhecido de imediato como ponto de passagem durante a minha participação na Maratona de Loulé. Trata-se de um local em calçada portuguesa que nos seus muros é adornado com azulejos ornamentados com versos e paralelamente tem acesso a uma ribeira onde é possível tomar um banho. Pouco comum é o facto de existirem casas de banho públicas que se encontram disponíveis 24 horas dia. A montagem da tenda foi efectuada já de noite garantindo assim que dificilmente alguém a detectaria, e o local escolhido foi a parte superior ao jardim que possibilitava uma visão elevada sobre a estrada apenas utilizada pelas “parelhas” que buscavam sossego na hora do namoro. O calor era ainda muito forte e só pelas 4h da manhã tive necessidade de me tapar com o saco-cama.