Dia 3
Aventuras > Algarve de Lés a Lés
Alte - Cachopo
Distância: 59.04 Kms
As dificuldades que tinha passado no dia anterior fizeram com que iniciasse o dia mais cedo, de forma a evitar o calor. Pelas 7h da manhã já pedalava para a saída de Alte em direcção a Benafim. Nesta localidade tomei o rumo de Alto Fica, cujo nome faz jus à sua posição geográfica. Mas que grande ascendente logo pela manhã e antes de tomar o pequeno-almoço! Atingido o topo do “Alto” parei para tomar a refeição desejada. Mais uma vez em conversa com algumas pessoas no café apercebi-me da surpresa que existe por um português escolher este tipo de transporte para percorrer o Algarve. Até agora isto era quase exclusivo de estrangeiros.
Seguia agora em direcção à Ribeira de Algibre, tinha também na Maratona de Loulé por aqui passado e recordava-me das suas águas cristalinas. Mais uma vez pude verificar que a seca é de facto uma realidade dolorosa. Onde esperava encontrar águas cristalinas, encontrei apenas pedras secas sem pinga de água. Agora o destino era Querença passando por Tôr. Pelo caminho encontrei uma fonte onde se tinha de accionar uma nora para se obter água fresca. Aqui fiz uma paragem mais demorada, já que o calor já era forte e a frescura da sombra assim convidava. Embora fosse ainda fosse relativamente cedo, já estava a tentar evitar que os problemas do dia anterior se repetissem. Ao rolar agora directamente para Querença tinha abdicado de visitar Salir, como planeado. Antes de chegar à localidade, pude observar que existe um percurso marcado para caminhada, quase que segui o impulso de por ele seguir… Já em Querença tive uma das situações mais divertidas desta aventura. Na entrada desta localidade existe uma fonte onde corre abundantemente água por duas condutas. A água é muito fresca e tem uma espécie de tanque que retém o excesso que cai da fonte. Aproveitei a água para lavar a cara, mas pouco depois estava descalço e sentado no parapeito do tanque com os pés a refrescar. Ao observar que o tanque tinha uma profundidade maior que o normal e que a água era de tal forma cristalina que se podia observar o fundo, não resisti a saltar para o seu interior. Mas que bem que soube! Estar apenas com a cabeça de fora a sentir a água cair por cima dela. Foram uns momentos que nunca trocaria por um bom ar-condicionado. Depois de aguardar um bocado para secar a maior parte da roupa, optei por subir a rua que, segundo indicação, daria acesso ao centro da localidade. Trabalhosa, esta pequena mas inclinada subida. Uma foto à igreja e entrei num dos cafés ai existentes para tomar algo fresco e comprar mais uma garrafa de água fresca, pois a fonte anterior tinha a indicação de água não potável. Quando estava a sair do café, ouvi um telefone e poucos segundos depois a senhora que o atendeu estava a correr para avisar a Junta de Freguesia que estava a iniciar-se um incêndio na localidade de Passagem. Rapidamente tentei verificar se esta localidade não se situava no caminho que tinha de percorrer. Felizmente que não, embora lamentasse a existência de mais um incêndio. Agora o objectivo era chegar pela hora de descanso a Barranco do Velho.
Embora em asfalto, este trajecto foi de difícil conclusão, já que se trata de uma ascensão de diversos quilómetros onde a sombra não é o ponto forte. Inclusivamente nalguns pontos estão ainda visíveis os estragos provocados pelos incêndios. O forte calor estava de novo a fazer estragos, só que desta vez tinha já mais conhecimentos de como controlar a situação. Este conhecimento levou a que nos últimos 3 km antes de Barranco do Velho, tivesse parado em cada km para descansar. A prioridade era não deixar o corpo sofrer como no dia anterior, já que isso tinha reflexos no dia seguinte. Ao chegar ao destino, não resisti a meter-me debaixo da fonte ai existente e abrir a torneira, tomando assim um banho que espantou as pessoas que se encontravam na esplanada ai existente. Aqui, para além de me alimentar e beber muita coisa fresca, esperei que o calor abrandasse. Nesta local pude verificar a circulação permanente de bombeiros que combatiam um incêndio por perto. Também passaram alguns ciclistas em bikes de estrada, que muito me espantaram pois o calor era deveras abrasador.
Quando aparentemente a temperatura tinha descido resolvi arrancar em direcção a Cachopo, o destino final desta etapa. No entanto após alguns km apercebi-me que o vento muito quente tornava as coisas muito difíceis. Desta forma optei por encontrar uma sombra que me permitisse aguardar mais tempo pela descida da temperatura. Depois de encontrar um local que me pareceu bom para o efeito, deitei-me e, pela primeira vez, pareceu-me estranho não visualizar nenhum pássaro a sobrevoar pelas redondezas. É incrível que apenas pelas 18.30h começaram a surgir algumas andorinhas e só muito depois os pardais apareceram. Muito temos a aprender com os animais, que sabem perfeitamente que as energias despendidas pela hora do calor não compensam o proveito que dai se possa obter.
Depois de verificar que já existiam pássaros no ar, este era o sinal de que a temperatura estava a descer para níveis mais aceitáveis, iniciei de novo a viagem. Neste trajecto pude verificar as múltiplas opções que existem de Pequenos Percursos (PR) por estas bandas. Um aspecto que merece ser melhor divulgado e aproveitado por todos aqueles que gostam de pedalar ou caminhar pela natureza. A estrada tem diversos ascendentes que se tornam difíceis pelo cansaço acumulado. Ao chegar a Cachopo procurei por um local para acampar, mas ao encontrar um quarto pelo preço de um parque de campismo, a opção foi fácil. Como os trajectos inseridos no gps tinham desaparecido, estava apreensivo com a etapa do dia seguinte, pois tinha consciência da total ausência de sombras e das elevadas temperaturas que este tipo de terreno é propício. Assim, como as pessoas que alugaram o quarto são extremamente simpáticas, socorri-me do seu conhecimento do terreno para me aconselharem na escolha do melhor caminho e acima de tudo que evitasse enganos, já que aqui um engano paga-se sempre com um bom desnível acumulado. Depois de obter dados e conselhos recolhi-me no quarto de forma a planear a etapa do dia seguinte. Por volta da meia-noite a temperatura era diabólica o que indicava que o dia seguinte seria infernal. Na realidade, antes de adormecer senti-me um pouco apreensivo com o dia seguinte.