Dia 4
Aventuras > Algarve de Lés a Lés
Cachopo - V. R. Sto António
Distância: 79.88 Kms
Acordei pelas 6h e o calor era de tal forma que tomei um banho de água fria. Os meus receios no que corresponde ao calor estavam a confirmar-se. Pelas 6.45h desci para tomar o pequeno-almoço e de novo contactei com as simpáticas pessoas que tinha conhecido na noite anterior. Desta vez resolvi precaver o dia em termos de comer, assim solicitei que fizessem duas sandes para levar e também adquiri sumos naturais. Mais tarde viria a perceber a mais valia desta opção.
Mais uma vez preparei a bike e garanti a fixação do equipamento (Alforges; tenda; saco; colchão) e iniciei esta etapa. A novidade era que seguiria o caminho recomendado na noite anterior e não o que tinha programado (onde é que estava esse...?). Tinha plena consciência de que nesta etapa não poderia sofrer enganos de percurso quer pelo desnível adicional que isso poderia acarretar quer pela ausência de sombras que o local padecia. O percurso escolhido era: Cachopo; Casas Baixas; Amoreira; Monchique; Motinho da Revelação; Malfrade Soudes e Furnazinhas.
Tal como me tinham indicado todo o trajecto foi realizado em asfalto, isso não invalidava o constante sobe e desce. Após passar por Amoreira a paisagem parece quase lunar, estas vistas podem ser confirmadas pelas fotos que obtive. Em Malfrade tive de pedir informações sobre a direcção a seguir, este simples acto num local do interior pode ser um exercício muito difícil. Tive de esperar algum tempo até que deslumbrasse alguém. Segui pela estrada agricula que recentemente tinha sido asfaltada. Até aqui apenas me tinha cruzado com um carro, isto demostra que tipo de movimento existe nestes locais. Na entrada de Soudes existe um moinho restaurado com muito bom aspecto e no jardim observei umas esculturas muito peculiares. Ovelhas; Pastores e Cavalos construídos com tábuas e depois pintados a rigor. De todos os locais que passei este foi o mais original. Penso que conseguiram os seus objectivos de uma forma muito original e sem necessitarem de grandes recursos. No entretanto parei para comer parte de uma das gigantes sandes que me tinham preparado. Quando cheguei a Furnazinhas já o calor era sufocante, optei por não parar e seguir até ao destino a que me tinha proposto nesta etapa. Quando tive de ultrapassar o novo IC que liga a Via do Infante a Mertola, fiquei com dúvidas por falta de indicações nesse local, como a única pessoa que observei foi um idoso que seguia no seu burro, dirigi-me a ele para lhe pedir a informação. Aquilo que não previa era que pelo facto de o alcançar pela retaguarda a minha chegada foi uma surpresa que quase ia causando um enfarte no pobre homem… Quando lhe pedi informação sobre o caminho para Tenencia, imediatamente me perguntou se tinha família por ali. Depois deste episódio, seguia agora em direcção a esta localidade, mas quando se chega ao final da descida a visão que se nos depara é de facto assustadora: Imaginem aqueles castelos que estão em cima do monte e para lá chegar existe uma estrada que serpenteia constantemente um dos lados desse monte. Para agravar, o calor estava insuportável. Quando me propunha a iniciar o “ataque ao castelo” verifiquei numa placa indicativa de diversos percursos pedestres/Btt. Pude ver que existia um percurso que tinha como destino o mesmo que eu tinha programado: Foz de Odeleite.
Optei por seguir este PR embora o caminho fosse de terra, no entanto não teria de subir ao topo de Tenencia. No próximo cruzamento tomei uma decisão que me custaria caro em termos físicos. Embora as placas me indicassem para um dos lados, estava plenamente convencido que estava situado numa das margens do rio Odeleite, e assim tinha que seguir pela margem esquerda do mesmo. Depois de descer algum tempo deparei com uma passagem que aparentemente vinha confirmar o que tinha observado quando da criação do trajecto. Aqui o track gps teria sido de grande valor, mas por razões que desconhecia nesse momento, este simplesmente não estava visível. Passado este pequeno dique onde estava em pleno funcionamento um sistema de rega auxiliado por um motor, que supus ser accionado por alguém, ainda tentei encontrar esse alguém para ajudar a confirmar a minha opção, mas as minhas buscas foram infrutíferas. Nada mais restava senão seguir o caminho que aparentava ser o mais utilizado. As constantes subidas e descidas conjugadas com o sufocante calor, estavam de novo a fazer mossa. Quando junto à estrada vi uma carrinha que estava estacionada junto a uma excelente sombra, pensei: estou safo.
Parei junto ao veículo mas rapidamente pude observar que este já há muito tempo daqui não se mexia. Era um veículo para transporte de alcateias de cães na caça ao javali, pelo menos era o que estava escrito no seu toldo. Encontrava-me no meio de um labirinto de estradas e sem visualização de qualquer ponto de referencia. Aqui entrou em acção o gps. Não que tivesse descoberto o que levou ao desaparecimento do track, mas porque poderia verificar se estava a deslocar-me em direcção ao Rio Guadiana. Após alguns quilómetros, foi com muita alegria que depois de uma curva pude observar lá em baixo o rio. Confesso que ganhei algum ânimo e desci a técnica estrada, duma maneira pouco prudente para quem segue de pneus mistos e com alforges na traseira. Quando finalmente cheguei à EN122-1 fiquei surpreendido por não ter nenhuma localidade à vista.... Este foi o resultado de não ter seguido as placas kms atrás. Fiquei a 3 km da Foz de Odeleite. Estamos sempre a aprender.
Aproveitando o facto da estrada ser plana, pedalei a bom ritmo até chegar à Foz de Odeleite. Aqui fui directamente para junto das margens do Rio Guadiana com intuito de me banhar nas suas águas. Já tinha passado algumas vezes por aqui mas de carro, sem nunca ter parado. Foi com surpresa que percebi não existirem condições dignas desse nome para aceder ao rio. Tive de improvisar uma entrada para a água através dum acesso criado por pescadores. Esta habilidade valeu-me uns calções de bike rasgados. Depois do banho segui para a povoação em busca de um café ou um local onde pudesse beber algo fresco. Surpreendentemente quando perguntei a uma pessoa onde existia um estabelecimento, este informou-me que apenas a 4 km existia um café. 4 km??? Então num aglomerado que seguramente seria superior a 50 casas, não existia nem um tasco??? Tinha programado este local como local de pernoita e, pelo exposto, teria de ser eliminado. Mas que raio de dia este…
Perguntei se existia uma fonte. Pelo menos isso existia. Mas só mesmo fonte, já que água canalizada não! Quando percorri o interior da localidade percebi o problema. Estão seguramente mais casas para vender que aquelas que não estão. É a desertificação do interior.
O calor era tanto que apenas procurei sombra para pensar o que fazer e esperar pela fresca. Aqui decidi que apenas quando os pássaros voltassem a sobrevoar os céus partiria fosse para onde fosse. Como me estava a sentir bem e “apenas” faltavam 30 km até V. R. S. António, o destino final, optei por acabar esta aventura um dia mais cedo que o programado. Após as 18.45h abandonei o meu esconderijo do calor e iniciei o combate a uma forte subida, sempre com o apoio da sombra. Quando atingi o cume, 4 km depois, também encontrei um café onde parei. Bebi algumas bebidas frescas e comprei aquela que seria a ultima garrafa de água desta aventura. Ainda houve tempo para ouvir o dono do café a contar que tinha deixado de andar de bike porque tinha sido multado duas vezes por excesso de velocidade…
A restante viagem não tem grande história e desde que entrei na EN122 até ao final utilizei sempre andamentos pesados de forma a chegar ao final ainda de dia. Tal aconteceu, estava cumprida mais uma aventura que desta vez tinha como principal novidade, o facto de ter sido em solitário.
Venha a próxima.